dia internacional da erradicação da pobreza – mensagem do Presidente da Cáritas Portuguesa
Na próxima 6.ª feira, 17 de Outubro, assinala-se o Dia Internacional da Erradicação da Pobreza.
Em todo o mundo, tanto quanto as estatísticas são fiáveis, há uma multidão de mais de 800 milhões de pessoas que, todas as noites, adormecem com fome. Nem podemos dizer que vão para a cama, ou que vão para casa, pois grande parte deste exército de amaldiçoados da sorte nem isso tem.
Os dias, para os mais pobres dos pobres no mundo actual, são um rosário de desgraças. Nada têm, nada possuem e não encontram o mínimo vislumbre de poderem alterar o rumo das suas vidas.
Num mundo onde há tanta ostentação escandalosa de riqueza, onde alguns desbaratam milhões num exercício de vaidade tantas vezes inqualificável, tantos outros não conseguem apenas o mínimo para sobreviver. E o mínimo é alimentação suficiente, habitação digna, trabalho honrado.
Perante um mundo repleto de uma assimetria tão injusta, todos os que se revêem no Evangelho de Jesus Cristo e na Declaração dos Direitos Humanos não podem ficar de braços cruzados. Simplesmente não podem. Agir é um imperativo.
No Dia Internacional da Erradicação da Pobreza, é preciso que se recorde que essa pobreza não é uma fatalidade, que há recursos económicos – nalguns países, até são excedentários -, que há soluções. O que falta, na verdade, é colocar a questão da pobreza no topo da agenda política, no topo das nossas consciências.
Que fazer? Agir. Cada um, no seu metro quadrado de influência pode ajudar a mudar o mundo. Dando a mão ao sem-abrigo que pernoita na rua onde moramos, ajudando instituições que se voluntariam para corrigir estas assimetrias, dando o nosso contributo na Imprensa, formatando opinião, fazendo eco da urgência de se construir um mundo melhor. No mínimo, “olhar com coração” para quem vive pobre, vencendo preconceitos que estigmatizam, como o de culpar, exclusivamente, o pobre pela situação em que se encontra. E erradicar a pobreza é, de facto, uma questão urgente.
Cada dia que passa, há milhões de pessoas que se afundam no beco sem sentido em que caíram as suas vidas. Para todos eles, para cada um deles, não se pode esperar mais. Quem nada possui, quem nada pode oferecer aos seus filhos, precisa de uma resposta, precisa que alguma coisa seja construída com urgência. Esta é uma responsabilidade cívica a que nenhum homem e nenhuma mulher de boa vontade podem fugir.
A actual crise económica em que o mundo está mergulhado veio evidenciar o que há muito já se sabia que a economia, para estar, como lhe compete, unicamente ao serviço da pessoa humana, não se pode deixar de se orientar por imperativos éticos e tem que estar subordinada às exigências da recta política. É preciso agir política e socialmente. E que ninguém diga que a responsabilidade é dos outros.
O mundo é um lugar pequeno demais para excluirmos a nossa responsabilidade. Num tempo imoral, num mundo carregado de sombras, é preciso agir com boa-vontade. Saber dar da mão, saber escutar o outro, saber agir. É chegado o tempo de passar à acção.
Enquanto houver um pobre ou um excluído, somos responsáveis por ele e somos chamados, todos, a responder perante o tribunal da consciência. Não fazer nada de útil é o mesmo que agir dolosamente contra quem carece da nossa solidariedade.
A Cáritas lança hoje um apelo em nome da vida. Vamos mudar as nossas consciências, vamos sair da carapaça da nossa indiferença, vamos mudar o mundo.
Temos o exemplo de Alguém que nunca se vergou nem sequer perante a ameaça da morte. Dizemo-nos cristãos? Temos de agir como Cristo. Não há outro caminho.
Eugénio Fonseca